quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

3 - O papel da mídia na sociedade atual: o caso do complexo alemão

Para entendermos o papel da mídia na sociedade atual, é preciso entender o que Gramsci vem conceituar de Sociedade Civil. Para o autor: “formada precisamente pelo conjunto de organizações responsáveis pela elaboração e/ou difusão das ideologias, compreendendo o sistema escolar, as igrejas, os partidos políticos, os sindicatos, as organizações profissionais, a organização material da cultura, etc. (p. 127)
A Sociedade Civil ou Aparelhos privados de Hegemonia, são todos os aparelhos que mesmo não pertencendo ao Estado, fazem um papel fundamental de legitimação do mesmo. 
O estado brasileiro como vemos hoje é formado pela sociedade política, e pela sociedade civil. As mídias atuais vêm fazendo esse papel fundamental de incutir na cabeça das pessoas as ideologias de um estado capitalista e neoliberal.
'Vencemos. Trouxemos liberdade para o povo do Alemão” as palavras do comandante da polícia militar do Rio de Janeiro foram estampadas nos principais sites e jornais do Brasil no dia 26 de Novembro de 2010, a Rede Globo de televisão e a Rede Record interromperam suas programações normais para transmitir o maior espetáculo de todos os tempos, talvez essas empresas tenham lucrado muito mais que a estréia do filme tropa de elite 2, afinal o que se transmitia era muito mais real.
 “Enfim o bem vencia o mal”, comemoram os locutores da TV. Essa era a principal ideologia colocada pela mídia naquele momento, provando as teorias do Italiano Gramsci sobre a Sociedade Civil. "O Rio de Janeiro está virando uma página.” Avisa o atual Governador Sérgio Cabral.
Vamos tentar fazer agora uma discussão sobre este tema usando como fonte alguns sociólogos que deram sua contribuição para desmistificar essa ação em algumas mídias menores.
O sociólogo Ignácio Cano, no site porto gente, fala sobre esse papel da mídia na cobertura desses acontecimentos:
 “de forma muito preocupante porque tem criando um espetáculo em relação à violência. A mídia tem reforçado a metáfora da guerra, da vitória e tem tratado a operação como se fosse a conquista do quartel do exército inimigo. O que não existe. É como se depois dessa ocupação nós tivéssemos vencido a suposta guerra e aí já não tivéssemos mais problemas de segurança pública. Ela está usando um triunfalismo muito grande”.

A mídia tem colocado insistentemente o apoio da população nessa ação policial, ora, a entrada da policia no complexo alemão significa a possibilidade que este local seja finalmente pacificado. Mas não podemos esquecer que quando o tráfico quer pacificar o local, ele também recebe o apoio da população. O que as pessoas querem é viver tranqüilas, é voltar pra casa sem medo de tiroteio, qualquer um que forneça isso será apoiado.
Por esse motivo não podemos confundir esse apoio populacional, como uma vontade geral que se configure numa verdadeira democracia, pois percebemos que atualmente a mídia tem influência sobre o pensamento e ação popular.
Segundo Schumpeter: “Tudo isso o cidadão-modelo teria de fazer sozinho e independentemente da pressão de grupos e da propaganda, pois vontades e inferências imposta ao eleitorado evidentemente não podem ser aceitas com condições ultimas do processo democrático” (p. 310).
Acrescentando ainda que o que existe nesse caso é uma verdadeira manipulação, o cidadão acaba por se tornar influenciado por tudo que a mídia nos coloca diariamente, o que passa nesses principais jornais é visto atualmente como a verdade absoluta.
Ainda segundo Schumpeter: “As maneiras e, que os fatos e a vontade popular sobre qualquer assunto são manipulados correspondem exatamente aos métodos publicitários” (p. 320)
Sabemos, portanto, que apenas o monopólio da força física não é o bastante atualmente para o estado, é preciso que as principais fontes formadoras de opinião estejam sempre a postos, colocando a todo o momento essa distinção entre o bem e o mal, como se o bem fosse o estado e o mal as milícias.
“Segundo o Sociólogo José Cláudio Souza Alves: Nós sabemos que o “inimigo é outro”, na expressão padilhesca, não podemos acreditar na farsa que a mídia e a estrutura de poder dominante no Rio querem nos empurrar”.
Segundo ele, o que vemos então é apenas uma reestruturação geopolítica do crime, as UUP’s não trazem o fim do tráfico, mas apenas uma forma pacificadora do mesmo.

Nenhum comentário: