Ao fazer uma análise crítica sobre a relação democracia e poder paralelo, não poderíamos deixar de constatar o caso recente no Brasil. Há muito se sabe que nas grandes capitais brasileiras, mas precisamente, nas comunidades de classe baixa, os grupos que comandam o tráfico de drogas dessas regiões detêm também o poder e o monopólio da força.
O que pudemos observar por muito tempo, foi uma verdadeira omissão do Estado com relação as comunidade pobres, deixando todos a mercê dessas Milícias que governam, de forma muito parecida com o estado, através do clientelismo e do monopólio da força.
Para entendermos essas questões vamos fazer um estudo sobre o Complexo do alemão e a recente operação do BOPE, Polícia Civil e Militar, com o apoio das forças armadas, para tomar o controle daquela região.
Precisamos primeiramente, entender o que é o complexo alemão e as características sócio-econômicas daquela região.
Esse complexo é formado pelas comunidades: Morro da Baiana, Morro do Alemão, Alvorada, Matinha, Morro dos Mineiros, Nova Brasília, Pedra do Sapo, Palmeiras, Fazendinha, Grota, Morro da Chatuba, Caracol, Favelinha, Vila Cruzeiro, Caixa D’água e Morro do Adeus.
Segundo o site de pesquisa wikpédia:
“Na década de 1920, o imigrante polonês Leonard Kaczmarkiewicz adquiriu terras na serra da Misericórdia, uma região rural da Zona da Leopoldina. O proprietário era referido pela população local como "o alemão" e logo a área ficou conhecida como Morro do Alemão. A ocupação, no entanto, só começou em 1951, quando Leonard dividiu o terreno para vendê-lo em lotes. Ainda nos anos 1920, lá se instalou o Curtume Carioca e, na sequência, muitas famílias de operários também se instalaram nas imediações”.
Segundo dados do censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a população do complexo é de 65.021 habitantes, consideradas uma das populações mais pobres do Rio de Janeiro apresenta Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,711, o mais baixo dos bairros do Rio de Janeiro, aproximadamente 14 % da população é analfabeta e 29% da população vive abaixo da linha da pobreza.
Como vemos acima, essa comunidades têm classe social, cor de pele e situação financeiras bem definidas, em geral são pobres, analfabetos, negros e de origem proletária.
Durante todos esses anos o Estado esteve omisso a tudo que acontecia nessas comunidades, regiões essas, carentes de educação, saúde, assistência social, necessidades básicas de todo ser humano, onde crianças daquelas comunidades acostumadas com a violência tiveram como único apoio e segurança os traficantes de drogas.
O que existem nessas comunidades é um verdadeiro poder paralelo, milícias que organizadas politicamente, contendo suas próprias leis, governam diariamente essas regiões, através de formas bastante parecidas com o estado. E essa talvez seja a maior dificuldade de um estado democrático atualmente, derrubar essas milícias e tomar de volta esse poder.
Não quero, porém demonstrar aqui uma guerra entre o bem e o mal, como a mídia o faz tão bem. Quero apenas levantar questões que não são levantadas diariamente pela nossa sociedade. O que ouvimos atualmente são aplausos, heróis surgindo e uma verdadeira guerra de interesses capitalistas.
O estado que durante décadas não fez seu papel básico nessas regiões, agora vem realizar uma varredura, o que poderíamos chamar de limpeza social, excluir todos aqueles que não servem para a nossa sociedade, ou seja, todos aqueles que alguns anos atrás, não tiveram nenhuma oportunidade e que encontraram no tráfico a única forma de sobreviver.
As questões que devem ser colocadas é: será que toda essa ação realizada pelo estado vai realmente trazer a segurança para o Rio?
Depois da invasão, com “sucesso”, vem, a instalação de UPP (unidades de Polícias Pacificadoras), configurando-se a segunda parte do processo de manutenção do poder pelo estado, mas o que vimos em outros exemplos não se caracteriza assim esse processo.
Segundo o sociólogo Michel Misse: “a UPP não conseguiu, nem conseguirá acabar com a venda de drogas, já que, segundo ele, enquanto houver demanda por drogas, haverá pessoas vendendo a substância ilegal. Tem gente vendendo drogas no Santa Marta (primeira comunidade a receber a UPP, no final de 2008)”.
A polícia e a segurança pública não se configuram num fim do tráfico de drogas, é preciso que haja outras opções para essas comunidades. Saúde Pública, Moradia, Saneamento e educação de qualidade, são indispensáveis.
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