segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Zoológico Humano?


Hábitos e pensamentos são observados por atentos telespectadores sedentos por ocasiões degradantes
por Tatiane Martins Alméri

Começam novamente as aprsentações dos zoológicos dos humanos. Nesse zoológico você pode observar os hábitos, costumes, as maneiras de relacionamentos, as bases de alimentação, as disputas entre grupos e como se comunicam. Você poderia imaginar que um dia isso iria ocorrer? Algumas pessoas ficariam trancadas  - em uma casa-jaula - e você poderia observar vários pontos de sua intimidades. Quais seriam as propostas de se fazer algo parecido com isso? Para que realmente serviriam esses zoológicos dos humanos?
O mais curioso é que os humanos que se submetem a essa exposição, ou melhor, a essa clausura, sentem-se estrelas, personalidades, famosos, como se, no momento da reclusão, fizessem algo que trouxessem um crescimento ou um acréscimo social a ponto de se tornar um ídolo nacional.
Clausura? Palavra de significado extremamente forte, porém, considerado como elemento necessário na tentativa de manter a ordem social. Se a existência da clausura é adequada ou não, temos teorias diferenciadas que apresentam de maneira metodológica e ampla pontos divergentes, cada qual com suas contribuições. No entanto, à parte dessas contradições teóricas, na prática, clausura é uma pena escolhida socialmente àqueles que não seguem as normas e leis sociais. Portanto, clausura é uma punição, algo que é visto de uma maneira negativa socialmente, mas no caso do zoológico dos humanos a clausura passou a ser um desejo nacional.
Ficar conhecido no Brasil inteiro de um dia para o outro, ser um participante do zoológico humano, um deles mais conhecido como Big Brother Brasil (BBB), tornou-se uma das metas da sociedade brasileira, e não só dela: na esteira da globalização , os zoológicos dos humanos ocorrem em vários países.
O senso comum sempre apresentou os seres humanos como melhores que os outros animais, como os detentores do topo da hierarquia dos seres vivos do planeta Terra, mas a Antropologia e a Sociologia sempre estiveram em um caminho mais coerente: somos todos seres necessários ao ciclio alimentar ( e não pirâmide, a qual coloca os homens no topo. Afinal, quando morremos, ninguém se alimenta do nosso corpo? Se estamos no topo seria porque ninguém, nem os vermes, se alimentariam da gente; o que, como sabemos, não é o que ocorre)e, por isso, possuidores da mesma importância no planeta.
Utilizo a expressão "zoológico dos humanos" por ser um parâmetro social que pode ser visto dessa maneira: pessoas que estão presas em um certo local, que são alimentadas, estimuladas a praticar certas atuações que estão sob supervisão e suscetiveis a uma observação constante por outras pessoas, que constroem máscaras sociais. E tudo isso por quê? Para que outras pessoas, essas sim estão no topo da hierarquia dos humanos, possam ganhar dinheiro como consequência da clausura.
Isso ja ocorreu anteriormente com outros seres humanos. na época da imigração italiana ao Brasil. Passando pelo porto de Dakar, existiam algumas gaiolas que tinha famílias de negros presos, e caso os imigrantes quisesse conhecer pagavam uma quantia para  - consciente ou incosncientemente - dar estimulos à escravidão que tinha, utopicamente, acabado (PATRON, 1928).
Nesta época as discussões do fim da exploração com relação a escravidão foram muito intensas. Hoje, nas reflxões da maioria da sociedade brasileira, é inadmissível prender pessoas que nadam fizeram de prejudicial segundo as regras sociais, porém, os reality shows não são classificados dessa maneira, pelo contrário, são vistos como comuns e altamente divertidos.
Por incrível que pareça, a submissão à exposição do próprio ser é legítima, como teorizou La Boétie. Existem várias razões pelas quais as pessoas se submetem à dominação, entretanto a principal delas consiste na submissão calcada no espírito de servidão voluntária (LA BOÉTIE, 2009). Além disso a "submissão legítima" passa a ser mais eficiente, pois é nela que o submisso se sente livre e assim dá abertura a uma maior supremacia do dominador.
A existência dessa submissão e expoxição de pessoas nesses zoológicos humanos, entre outros parâmetros, é, além do caráter de exploração, uma real comparação e nivelamento do que somos com outros animais. Tratamos os homens de maneira indigna e atroz, tal como lidamos com os outros animais. Sempre em troca da base do sistema capitalista: o dinheiro.
Dê uma espiadinha só nisto: até as inspirações e modelos de hoje passaram a ser essas "grandes estrelas do país" que ascenderam de um dia para o outro e, na maioria das vezes, se apagam com a mesma velociadade. Daí fica a pergunta: será que a existência desses zoológicos dos humanos serve simplesmente para enclausurar pessoas a troco de dinheiro ou para restringir discussões socialmente mais relevantes?
A segunda questão é a mais cabível atualmente. Restringir pensamentos a ponto de chegar a uma "não reflexão" da população com relação a parâmetros sociais, políticos e econômicos é algo que torna mais fácil o domínio e consequentemente a submissão. A política do pão e circo de Júlio Cesar tem funcionado há mutos anos.
E é dessa maneira que a clausura continua: nos vendemos a cada dia e, principalemente, a servidão voluntária se prolonga a medida que nascemos, já em um cerco que pretende não dar a nós a abertura para a reflexão. E para divertir um povo que não discute pontos necessários à construção social, os reality estão a 10 anos, contruindo cabeças irreflexivas e submissas voluntariamente.
E, dessa maneira, nos sentimos livres; no início a troca da exposição do ser como mercadoria era julgada, a ética social não permitia que joelhos e colos aparecessem de uma maneira tão exposta na televisão, hoje, sentímo-nos livre por podermos vender nosso corpom praticamente nus, na íntegra, voluntariamente, submetendo-nos  certamente ao sistema capitalista e aos que estão no topo da pirâmide financeira. Porém, temos em nossas mãos a escolha. o que não podemos é julgar as diferentes formas de vender o corpo, pois todas estão em busca do Deus do capitalismo: o dinheiro.

Tatiane Martins ALméri é sociológa pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestre em Sociologia Política e docente na UNIP e na FATEC     

Um comentário:

Anônimo disse...

NO MÊS DE JUNHO É SEMPRE ESPERADO O MÊS DAS QUADRILHAS JUNINAS, MAS ESTÃO SE FORMANDO OUTRAS QUADRILHAS QUE SÃO OS CANDIDATOS