fonte: Consciencia.blog
Assistimos, muito consternados, à
vitória do empresário tucano João Doria no primeiro turno em São Paulo, ao
aprofundamento da decadência do PT no país inteiro, ao revigoramento do PSDB e
do PMDB… enfim, à continuação do franco crescimento
da direita partidária no país.
Só o Rio de Janeiro, entre as grandes
cidades, vivenciou um crescimento resistente da esquerda, com Marcelo
Freixo no segundo turno e a eleição de vários vereadores do PSOL.
Diante desse quadro eleitoral, a
reação de boa parte, talvez a maioria, da esquerda tem sido de puro
derrotismo e resignação. Vi diante dos meus olhos, na noite do dia 2 de
outubro e no dia seguinte, uma parcela da esquerda que morreu por dentro. Tendo
deixado de alimentar nas pessoas e em si mesma os sonhos de um mundo melhor e o
propósito de lutar por esses sonhos, ela simplesmente perdeu
o sentido de existir.
Aí nos perguntamos: e agora, o que
fazer? Eu respondo: vamos sentar juntos para responder
a essa indagação, e me permita trazer minhas sugestões.
A parcela da esquerda que continua
firme na luta
Acredito que é essencial, para
buscarmos responder o que fazer a partir de agora, buscarmos inspiração na
parcela da esquerda que continua lutando, que nunca se deixou baixar a cabeça e
aceitar a tal chegada dos “tempos sombrios” de hegemonia absoluta da
direita.
Numa hora como essa, olho feliz
e esperançoso – e espero de coração que você também se sinta inspirado(a) para
olhar junto comigo – para a parcela que continua na luta, se recusa
veementemente a baixar a cabeça econtinua lutando e
resistindo num país em que a direita avança.
Esse é o lado da esquerda brasileira que resiste, seja focada nas
reivindicações de nível micro, como aumento de salários e implantação de planos
de carreiras e salários, seja em luta contra os retrocessos de direitos que
Michel Temer e governos estaduais e municipais ameaçam trazer – e, se depender
do lado derrotista da esquerda, trarão sem ser impedidos ou dificultados.
É parte que persiste em sonhar
e construir um mundo melhor, que rejeita aguerridamente que o medo e a
desesperança tomem de assalto o mundo e matem aqueles sonhos tão lindos do
final do século 20.
Entre essa esquerda que resiste, incluo, com muita admiração e
prestando meus sinceros elogios:
·
Aos adolescentes das escolas estaduais de São Paulo,
Rio de Janeiro, Goiás e outros estados que ocuparam em luta esses espaços,
contra o fechamento arbitrário e antidemocrático desses locais e a
privatização ou militarização da gestão escolar;
·
Às feministas que lutaram contra o agora
ex-deputado Eduardo Cunha, contra as medidas misóginas encabeçadas por ele
em 2015, e ajudaram a desmoralizá-lo perante a maioria da população brasileira;
·
Às feministas cariocas que
escancararam que o ex-candidato a prefeito Pedro Paulo é um agressor de
mulheres e, assim, conseguiram numa linda vitória fazer com que ele não fosse
para o segundo turno no Rio de Janeiro;
·
Aos movimentos sociais de minorias
políticas que, apesar de diversas rixas internas, vêm crescendo imensamente
nas redes sociais e nas universidades, cativando a juventude e promovendo um
debate cada vez mais forte na sociedade;
·
Aos bancários em greve, aos professores
universitários que estão também organizando uma greve nacional, aos funcionários
dos Correios que lutam da mesma maneira, e a todos
os demais trabalhadores que se recusam a ver seus sonhos serem
pisoteados pelos governantes golpistas e antidemocratas;
·
Ao PSOL, que tem sido o bastião de
resistência da esquerda partidária no poder legislativo e executivo no
Brasil. Que não se deixa desiludir da possibilidade de realizar mudanças por
meio da política representativa para que, mais adiante, uma mudança mais
sistemática e avançada seja viabilizada a partir do seio do povo. Merece
destaque honroso o PSOL do Rio de Janeiro, que obteve uma
vitória histórica com Freixo no segundo turno – e elevadas chances de ser
eleito – e seis vereadores.
A outra parcela, a derrotista, da
esquerda
A metade resistente da esquerda,
que me traz vívidas esperanças pelo futuro, contrasta severamente com o que eu tenho
visto no Facebook e em diversos sites progressistas desde o ano passado: a
outra metade,a esquerda de alma derrotada, convertida numa
borrada sombra do que era nos anos 80 e 90.
Que rasteja
na resignação, no medo, na desesperança e na crença de que “as trevas”
irão dominar o Brasil e nada mais pode ser feito, fora sentar, chorar, lamentar
nas redes sociais e esperar que o pior aconteça individual e coletivamente.
Uma esquerda que, por ter perdido sua
essência – que é sonhar com um mundo melhor, vislumbrar um futuro gostoso para
todos e lutar incansavelmente por ele, por mais que sofra derrotas e decepções
no percurso -, morreu por dentro e dela só
restou uma casca morta-viva.
E nesses dias eu pude ver de novo
essa onda de “trevas espirituais” nessa parcela da esquerda, já que a direita
avançou na maioria das prefeituras. De novo grassou potente o
discurso da vergonha, da tristeza, de achar que não é mais possível
fazer nada, de que tempos tristes e sombrios despontam invencivelmente no
horizonte.
A partir dessa realidade, eu
percebo que o nosso problema não é apenas que a direita tem crescido. Mas
também que, paralelamente, grande parte da esquerda tem decaído em queda livre
e não oferece mais uma alternativa válida
e palpável de projeto político para o povo como um todo, que
atualmente tem medo do futuro e quer representantes que lhes satisfaçam as
emoções mais nervosas e urgentes em meio a essa epidemia de
incertezas.
É uma esquerda que, por causa de:
·
Brigas internas fratricidas;
·
Foco no que os “aliados” de espectro ideológico têm de pior e pensam
diferente ao invés do que têm de melhor e pensam parecido;
·
Evasão em massa do sistema político representativo sem se construir e
defender nenhuma alternativa realista alcançável a curto ou médio prazo;
·
Purismo ideológico e falta de tato social;
·
Sectarismo radicalizado;
·
Carência de trabalhos de base nas comunidades pobres;
·
Encastelamento nas universidades, em espaços restritos das redes sociais
e em sites progressistas de médio alcance, parecendo haver uma fobia de ir nos
bairros pobres e favelas para conversar com as classes populares e ouvi-las
atentamente;
·
Falta de objetivos a curto, médio e longo prazos etc.
obviamente não tem futuro nenhum fora a nulidade e irrelevância no
panorama político brasileiro.
Esperança! Como ressuscitá-las dentro
de nós
Nessa hora de resignação dessa parcela da esquerda, não sei se vou ser
bem entendido, mas direi:
Não
percamos a esperança!
A
esperança somos nós!
Não
esperemos a esquerda se reconstruir à nossa revelia.
Vamos
reconstruir nós mesmos a esquerda (ou melhor, essa metade dela que morreu)!
A hora não é de desistir e dizer “Olá, escuridão, minha velha amiga”.
Mas sim de parar pra refletir e debater com nossos iguais:
·
O que deu errado na esquerda?
·
Por que ela não decola?
·
Por que essa parcela da esquerda não está incluindo as classes
populares, mas sim apenas um pedaço da classe média urbana?
·
O que precisa ser mudado ou melhorado?
·
E sobretudo: Como ressuscitar a esquerda
antissistema, anticapitalista e pró-democracia popular?
Depois do luto, que venha a reflexão,
a autocrítica e a reconstrução
Não podemos
desistir. Precisamos fazer a autocrítica da
esquerda e mudar aquilo que precisa ser mudado. Renová-la. Conquistar o
apoio da maioria da população.
Cativar as emoções,
sonhos e anseios das outras pessoas. Mostrar que elas precisam lutar por
seus direitos, sonhar com um futuro melhor e ser o povo o único soberano de si
mesmo. Aprender com quem continua lutando de cabeça erguida.
Fazer com que as
pessoas compreendam nossas posições, percebam o que elas têm a ver
com as lutas sociais históricas e se identifiquem com a esquerda. Ou
melhor, fazer com que a esquerda brasileira como um todonão
exista mais tão separada do povo humilde e avessa a ele quanto a
direita empresarial e partidária.
Espero que, depois do luto da noite do dia 2, isso comece a acontecer,
mesmo que pouco a pouco. E podem ter certeza de que eu quero muito contribuir
com essa reconstrução da parcela degradada da esquerda, e me aliar com a que
continuar forte e resistindo. E sei que você poderá, com a devida mudança
de atitude, aderir e fazer o mesmo.
Se o sistema político representativo
falhou, vamos construir um novo ainda mais
democrático e popular, que ainda não existe por aqui. Se o capitalismo é abominável, vamos
construir um sistema econômico alternativo que seja viável no mais breve
possível e não precise de décadas à frente para ser possibilitado.
Se a direita é elitista,
preconceituosa, antipopular e demagógica, vamos
ser a contraparte dela e provar à sociedade como um todo nosso valor
e os porquês de sermos melhores para as classes populares do que os
empresários, ideólogos, pastores e políticos conservadores, moralistas,
pró-capitalistas e liberais econômicos.
Vamos compartilhar nossos
conhecimentos, dar o melhor de cada um(a) de nós. E fazer tudo aquilo que seja
possível para que a esquerda como um todo volte
a ser competitiva perante a direita e se
funda verdadeiramente com o povo e seus interesses coletivos.
Ou seja, que
toda a esquerda volte a sonhar, lutar por esse sonho e inspirar que
as pessoas em geral sonhem também.
Então…
Vamos à luta!
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