A MTV na contramão

Ontem, um colunista da Folha de São Paulo perguntou a seus leitores se eles achavam que as emissoras de televisão deveriam oferecer programação diferenciada a seus telespectadores nos feriados. Às vezes me pergunto se os colunistas da Folha de São Paulo são realmente pagos, já que a resposta me parece óbvia: sendo uma concessão pública, é mais que lógico que as redes de televisão deixem de mostrar as barbáries que apresentam diariamente e atendam a uma programação mais adequada às datas festivas. Aliás: mesmo nos domingos deveria haver diferença na programação. Já pensou em sábados e domingos temáticos, esquecendo essa chatice programada sabe-se lá por que gênio televisivo?A pergunta que fez o colunista dizia respeito à programação de hoje, Dia das Crianças, no qual, ele afirmava, a Rede Globo passou a copiar o SBT e ofereceu programação diferenciada. Tanto melhor que ambas, assim como a Rede Record, decidiram alinhar sua programação a um gosto familiar. No SBT e na Rede Record, houve, durante toda a tarde, uma maratona de filmes novos e antigos, todos voltados ao público infanto-juvenil.

Na Rede Globo, a insossa “Sessão da Tarde” foi trocada, durante toda essa semana, por filmes bem melhores, começando por uma deliciosa reprise de “Indiana Jones” na segunda e, hoje, por um especial da “Turma da Mônica” e pela transmissão do show do Justin Bieber. A crer que a Globo se disfarçou, por algumas horas, de MTV.Quanto à MTV, o que houve foi o reverso do esperado. Ainda bem. Ao invés de, como as demais emissoras, amenizar sua programação, aproveitou para enfiar o dedo em uma ferida bem cascuda: a homofobia. Não haveria data mais propícia: todo o seu público alvo está em casa sem aulas. Foi programada, desta forma, logo a partir do início da tarde, o que se chamou de “MTVALOKA” (MTV-ALOKA, gíria gay mais ou menos onomatopaica, que serve tanto de saudação quanto de interjeição, corrompendo “a louca”), com o programa “Hora Extras” fazendo, literalmente, hora extra na programação, “Acesso” e demais voltados para o público gay.Apesar de o grosso da informação fornecida centrar-se na cultura pop atual, com notícias já repetidas sobre Rick Martins e Lady GaGas (houve telespectadores ligando para os programas para assumir sua homossexualidade), o importante é que a emissora falou, para o que convencionou-se chamar de “futuro do Brasil”, sobre os ídolos desses jovens, de maneira a mostrar que ser gay (ou lésbica, ou bissexual, ou transexual, ou não importa qual sua orientação), é normal e não diminui ninguém.

Ainda bem que alguém decidiu ir na contramão do discurso dominante, mesmo em um dia que deveria ser ameno esclarecendo, na medida do possível, que todos devem ser tolerantes a todas as diferenças.

fonte: Blog FolhadeMaringa