domingo, 16 de janeiro de 2011

O Enigma de kaspar Hauser

Seria possível um homem viver sem contato algum com a sociedade?
O filme o “Enigma de Kaspar Hauser” dirigido pelo Alemão Werner Herzog em 1974 traz algumas discussões importantes sobre a vida social. Como a prática social interfere na vida individual e psicológica, e principalmente os conflitos existentes entre o indivíduo e a sociedade, para Durkheim os determinantes sócio estruturais explicam a vida e os problemas sociais, independendo das interpretações biológicas ou psicológicas.
Kaspar Hauser viveu e cresceu aprisionado em um celeiro sem contato algum com a sociedade, ao ser retirado não conhece a fala e nem sequer consegue andar, por esse motivo desconhece as normas da sociedade em que se é inserido, e assim começa questionar sobre os valores morais, éticos e religiosos dessa sociedade, levando-nos a perceber que tudo em que temos como natural hoje, como a crença, a família, e até a própria comunicação através da fala é imposta pela educação seja escolar ou com a vivência social. Engana-se o indivíduo que pensa está seguindo seus próprios desejos, pois seus desejos são camuflados por desejos de algum grupo que ele está inserido.
 Kaspar, é colocado em uma praça da cidade e é encontrado pelos representantes do estado, aos poucos é ensinado a andar e a conhecer algumas palavras que ainda não reconhece o significado, e tem muita dificuldade em adaptar-se com os costumes da sociedade.
Segundo Maria da Graça Jacinto Setton, uma educação normativa e moral deveria assentar a unidade entre indivíduo e sociedade, ambos concebidos como duas faces de uma mesma realidade. Mais do que isso, o sucesso desse processo educacional seria caracterizado pela construção de um ser social totalmente identificado com os valores sociéticos.
Aos poucos Kaspar Hauser vai se acostumando com os valores sociais e encontramos no filmes alguns pontos interessantes, como o embate com o professor de lógica e com os clérigos, nesta última discussão, os religiosos o perguntam sobre a crença em Deus, Kaspar responde não acreditar em nenhum ser superior e que precisa primeiramente aprender a escrever e a ler para depois refletir sobre estas questões.
Devemos destacar não só a visão de Kaspar perante a sociedade mais também a visão da sociedade sobre ele, percebemos no filme o olhar da sociedade preconceituosa para com um ser totalmente diferente de seus princípios normativos, chegando a ser colocado num circo de aberrações.
“A educação moral das instituições família e escola teria a responsabilidade, portanto, de forjar a personalidade de um novo sujeito social, agora identificado com a proposta de uma sociedade burguesa e capitalista”  (Maria da G. J. Seton)
Vivemos hoje num mundo capitalista onde os ideais burgueses são lançados na nossa mente todos os dias, não só pelas instituições família e escola, mas principalmente pela mídia, idéias como o “trabalho dignifica o homem...” são conceitos burgueses mais que nós naturalizamos isto e defendemos esta causa, mesmo que este trabalho seja um trabalho escravo, porém normatizado pelo estado.
A educação seja ela em qualquer instituição tem o papel muito importante de adequar a personalidade do indivíduo aos idéias da sociedade, a religião por exemplo tem um papel de ditar normas e regras colocando o que é certo e errado perante a sociedade.
No filme podemos perceber essas instituições, estado, família, religião, entre outras, ditando normas e falando como Hauser deve se comportar, que tipos de alimentos deve comer, como andar, como falar com as pessoas, etc
Para Dubet, a experiência social é uma maneira de construir o mundo. O indivíduo não está inteiramente socializado, não porque lhe preexistam elementos “naturais” e irredutíveis, mas porque a ação não tem unidade, não é redutível a um programa único. Segundo o autor, existe alguma coisa de inacabado e de opaco na experiência social do indivíduo contemporâneo, porque não há adequação absoluta entre a subjetividade do autor e a objetividade do sistema. Não existe uma socialização total, mas se processa uma espécie de separação entre a subjetividade do indivíduo e a objetividade do seu papel. E essa socialização não é total, não porque o indivíduo escape do social, mas porque sua experiência se inscreve em registros múltiplos e não congruentes (cf. Idem, PP. 94-96)
Talvez este pensamento seja observado principalmente em casos como o do filme, por mais que as instituições coloquem seus objetivos perante kaspar, ele sempre vai ter algo de se vazio na sua socialização, alguns aspectos ele pode nem mesmo tomar conhecimentos e outros talvez não aceite, assim como não aceitou a imposição da religião e da existência de um Deus, então, no momento em que o sistema através da educação coloca sua objetividade o indivíduo vai aderindo algumas características e negando outras.
Por fim, devemos lembrar que o caso de kaspar acontece num contexto histórico onde a ciências naturais eram tidas como inquestionáveis, então não se sabe o autor e o motivo, mais Hauser é assassinado e ignorando todos os fatores sociais em que ele viveu, os cientistas colocam o fato de uma anomalia no seu cérebro para justificar todos seus atos.


Essa resenha foi feita por mim no 2º período da Faculdade de Ciências Sociais, então, perdoem as falhas.

4 comentários:

Poliana Fonteles disse...

ESTA OTIMO MARQUINHOS...

ABRAÇO!

Theodoro disse...

Parabéns pela resenha

Markinhus disse...

Obrigado Poliana. Valeu Theodoro.
Sejam bem vindos sempre.

Anônimo disse...

Tava perdida em um trabalho de sociologia lendo seu texto já me achei um pouco muito obrigado agora vou me aprofundar mais em outros sites.
Muito obrigado