Uma semana após a segunda Marcha Nacional Contra a Homofobia, a presidente Dilma Roussef veta o Kit Anti-Homofobia para proteger Palocci de uma CPI e acalmar a fúria dos conservadores religiosos no parlamento. Essa vergonhosa capitulação não deixa dúvidas sobre as prioridades do atual governo. Proteger seus membros de novos escândalos de corrupção e angariar o apoio das bancadas evangélica e católica no Congresso Nacional.
Fazem poucas semanas que o Brasil obteve a maior conquista da história da luta por direitos civis para a população homossexual, o reconhecimento da união civil homoafetiva pelo judiciário. Isso foi o resultado de anos de luta tocada pelo movimento. Mas é sintomático que a vitória tenha passado pelo judiciário e não pelo governo. Na semana passada a CSP-Conlutas e a ANEL estiveram presentes na segunda Marcha Nacional Contra a Homofobia em Brasília para dizer que precisamos ir para a ofensiva sobre o governo e exigir a aprovação da lei que criminaliza a homofobia. Não foi preciso mais do que uma semana para este governo mostrar com quem está comprometido.
A história se repete: mais uma vez nossos direitos são moeda de barganha!
É preciso fazer a denúncia contundente: igual ao que ocorreu no segundo turno das eleições com a “carta ao povo de deus”, Dilma e o governo barganharam nossos direitos e nossa luta para agradar aos interesses mais reacionários da burguesia nacional. Mais do que isso, além de tentar acalmar o obscurantismo religioso, a manobra de Dilma tem como motivo livrar Antonio Palocci de um novo escândalo de corrupção.
A decisão da presidente não deixa dúvidas sobre suas escolhas políticas. O próprio deputado Jair Bolsonaro, defensor da tortura, da ditadura militar e um preconceituoso assumido afirmou “desta vez tenho que elogiar Dilma”.
Se figuras como Bolsonaro, Garotinho, Malafaia e demais homofóbicos de plantão estão elogiando Dilma, resta aos ativistas LGBT à dura crítica a este governo.
É necessário tirar conclusões deste episódio: Independência e luta!
A capitulação do governo deixa claro que não é possível tratá-lo como um aliado. Enquanto medidas demagógicas são anunciadas e eventos pomposos são realizados para atrair a atenção das lideranças do movimento gay, as medidas reais tomadas pelo governo são para agradar os religiosos.
Precisamos tirar uma lição importante deste fato. O movimento não pode mais seguir atrelado ao governo e institucionalizado dentro do Estado. É preciso recuperar a independência e ir à luta! A violência homofóbica nas ruas, nas escolas e nos locais de trabalho não espera, se faz sentir deixando uma vítima a cada dois dias. Da mesma forma nós não podemos esperar, o governo fez sua escolha, precisamos fazer a nossa. É hora de irmos para as ruas lutar por mais direitos e não de aplaudirmos discursos demagógicos como os de Marta Suplicy que só faz clamar por mais paciência. Pedimos que Bolsonaro tenha paciência, nós vamos à luta!
O que é o Kit gay?
Das inumeráveis políticas contra a homofobia que o governo vem discutindo e anunciando, o Kit Anti-Homofobia foi uma das que chegou mais perto de sair do papel. Como todas as outras, este virou letra morta para não desagradar seus aliados reacionários.
O Kit foi elaborado por ONGs como uma proposta de política pública para combater o preconceito nas escolas e levar mais informação aos estudantes e professores. Achamos um erro este material ter sido elaborado por ONGs sem ser discutido com os trabalhadores da educação. Ainda assim, poderia ter significado um avanço, embora muito limitado.
O Kit é composto por alguns vídeos que mostram a situação de alunos LGBT lidando com o preconceito. Além disso, possui material impresso para esclarecer sobre a sexualidade e o preconceito. Não possui cenas de beijo e muito menos manuais de práticas sexuais. Da mesma forma, o Kit foi elaborado para alunos de 14 anos de idade ou mais, e não para crianças como vem dizendo os religiosos. Por fim, estava programada a distribuição de alguns poucos milhares de Kits, o que não cobriria a rede de ensino do país. Além disso, o uso do material não seria obrigatório, o que tornaria o alcance da discussão muito limitado.
Achamos que este Kit é muito recuado. Deveria ser discutido e elaborado com os profissionais da educação. Deveria tratar de educação sexual, prevenção à DST-AIDS, práticas contraceptivas, diversidade sexual, preconceito e discriminação. Ou seja, deveria tornar o espaço escolar um ambiente de informação, democracia, respeito e emancipação.
Por Douglas Borges, setorial GLBT da CSP-Conlutas
Um comentário:
Ela quer agradar a todo mundo e vai acabar não agradando ninguém. #fato
Bjos more - saudades
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